17 setembro 2008

Amigos desconhecidos

Sentado sobre a cadeira, fones plugados no Ipod, caneca com o primeiro gole de vinho e um maço de cigarros na mesa ao lado. Acabo de escrever um comentário num blog que aprecio há algum tempo.
A janela aberta por trás de mim insiste em soprar o vento frio da noite. Uma mistura dos restos da chuva de granizo da tarde e sombras de minh'alma.
Desde ontem algumas palavras não saem de minha mente. É como se fosse um eco da memória auditiva relutando para mostrar-me explicações de fatos que não tenho a menor vontade de entender. Tomo o primeiro gole do vinho gelado. Sinto o frio da noite sobre os ombros. Olho para os cigarros mas a vontade de escrever é maior.
Amigos desconhecidos. É isto o que temos na maior parte da vida. A moça mesmo, dona do blog o qual me referi instantes atrás pode ser um exemplo disto. Compartilhamos de mais ou menos as mesmas idéias, experiências e desejos. Vivemos em contextos, cidades e talvez até estados ou países diferentes. E de uma forma um pouco estranha, me sinto próximo. Outro pequeno gole para amaciar os pensamentos. Não sentirei os efeitos do álcool enquanto estiver ouvindo "Tonight I'm a rock and roll star" (acho que foi isto mesmo que eu ouvi).
Mas, (sempre tem o mas) hoje não penso diferente de ontem que também não me fez pensar diferente de antes de ontem. Aceito algumas perdas em troca de alguns benefícios. E acho que todo mundo acaba fazendo isto um dia. Então, hoje e ontem e também antes de ontem, continuo com alguns amigos desconhecidos. Tem um monte deles por aí: No trabalho, na minha rua, na academia, no curso de tiro, na faculdade, no ônibus, no elevador, no estacionamento.
Nos relacionamos diariamente com uma infinidade de pessoas e nunca saberemos o que elas tem na cabeça como sabíamos quando aquele amigo de infância lhe olhava com o rosto sujo de barro, chateado porque acabou de cair da bicicleta. Mas a vida é uma balança. Onde tudo tende ao equilíbrio. E este nada mais é do que um dos lados dos pesos. O outro é o fato de podermos passarmos ilesos por nosso dia sem sermos percebidos. E o melhor. Sem perceberem que estão sendo observados todo o tempo.
Estamos tão acostumados em não sermos notados, em não termos importância e um belo dia, um menor sinal de mudança do seu comportamento chega aquele sujeito que sempre fala bobagens na hora do café e lhe fala:
- Preferia o seu bem estar de ontem do que o hoje.
Então você se surpreende! Às vezes até pede desculpas ou mesmo tenta de maneira vã dizer que está tudo bem. Este sujeito é um amigo desconhecido. Não quer saber da sua ou da minha vida ruim, mas está lá para lhe ajudar. São raras as pessoas que possuem os amigos os quais podem ligar a qualquer hora do dia ou da noite e pedir ajuda sem muitas palavras porque estes são próximos.
Esta é a parte boa. A parte ruim é quando você acredita na boa fé de um amigo desconhecido. Imagine que seu amigo desconhecido (porque realmente no geral não sabemos nada um do outro) lhe aprontasse algo. Fizesse algo que mesmo por menor que seja seria importante que lhe contasse! E a parte pior de todas. Você sabe que ele fez, não questiona nada e espera que ele lhe fale algo que jamais ouvirá.
Porquê? Porque ora bolas. Ele é um desconhecido. Não é seu amigo próximo, está lá por mera causalidade e esperando o melhor momento para de uma maneira clássica lhe atirar por entre os olhos.
O mundo é tão volúvel ó Deus! Ah... é mesmo! Ele pode não acreditar em Deus.
Imagine-se jogando no time do adversário. Cuidado! Só os amigos próximos jogam no seu time. Mas, não se surprienda. Como disse, há uma balança. Para cada amigo distante filho da puta, você terá no mínimo uns quatro ou cinco que também concordarão com você.
Ontem, estava assistindo Matrix Reloaded (sei que é meio retrô, mas depois de assistir décimo terceiro andar...) e ouvi aquele cara metido à francês dizer: Tudo é obra de mera causalidade. Causa e efeito. E é assim desde o início dos tempos. O problema é identificar que causa levou ao efeito. Porque ó céus temos amigos distantes filhos da puta já que sempre demos o melhor de nós?! Simples! Não era o seu melhor. Não para você, mas pra ele.
Érica minha amiga desconhecida de blog. Não me referi em momento algum de forma negativa à você neste post. Você incrivelmente joga no meu time.
Alguns exemplos de amigos distantes filhos da puta:
Aquele que prega uma integridade sem tamanho para os outros e em um dado momento mostra seu desvio de caráter.
Aquele que você apresenta alguém e em pouco tempo, cria afinidade com a nova pessoa e trata de te afastar dela.
Existem vários outros. Mas não haveria espaço em bits no universo para descrevê-los.
Ainda há vinho no meu copo. O momento de fúria aos poucos vai dando lugar ao relaxamento. É a mente racional tomando conta de tudo novamente. Agora há brasa na ponta do cigarro. A fumaça leva embora o resto de sentimento ruim que há dentro do dono destas mãos que digitam coisas sem sentido.
Gastei energia suficiente para fazer o LHC parar e exatos 376 dias para provar à alguém que ela não pregava o que fazia. Corri riscos enormes, tive benefícios sem tamanho e sobrevivi para contar a história. Como prêmio de consolação, provei que o Deus olhou pra mim o tempo todo. Uma pena que por esta terra sobrem professores e faltam alunos.
Um bom momento à você.