14 fevereiro 2007

O jogo Final


   Enquanto estou à caminho da aula vou escrevendo mais uma história.
   Acredito que nossas vidas são como uma partida de futebol no campinho perto de casa. Reunem-se vários colegas, dividem-se dois times à moda antiga: dois garotos, um é você e o outro é Deus. Então vocês tiram par ou ímpar e começam a escolher quem vai ficar do lado de quem. Hora Deus escolhe seu melhor jogador e você escolhe seus melhores amigos quando Deus já não os escolheu. Chega um dia que não é mais você quem escolhe o time e então Deus escolhe você para jogar no time Dele. É hora de dizer adeus aos jogadores do outro time e cumprimentar os velhos e novos companheiros de jogo.
   Tenho certeza que um dia vamos reencontrar todos aqueles que há muito foram jogar no outro time.
Ps.: Este foi o meu primeiro relato escrito em um computador portátil. De agora em diante vários deles serão assim.

05 fevereiro 2007

Devia ter tomado a pílula azul

Devia ter tomado a pílula azul


Primeiramente é interessante explicar o que é esta história de pílula azul. Existe um filme chamado Matrix onde um cidadão chamado Anderson (de apelido NEO) é convidado à sair de uma prisão que ninguém conseguia enxergar. Então, para o NEO descobrir a verdade ele tinha a opção de tomar a pílula vermelha ou então tomar a pílula azul e continuar a viver normalmente sem sequer se lembrar que teve aquela conversa. Então, o Neo resolveu tomar a pílula vermelha. Logo ele descobriu que a vida que ele levava não passava de uma simulação digital para que a energia produzida em seu corpo pudesse alimentar as máquinas que comandavam a simulação. Na verdade, eu compreendo que a pílula azul ou vermelha podem significar duas coisas: A primeira é a verdade absoluta, o que realmente existe depois da morte. E a segunda, seria o amadurecimento, o conhecer-se como gente e não mais viver no mundo de inocência o qual as crianças vivem.
Partindo do segundo conceito, é fato que a vida adulta às vezes é muito melhor que a vida de antes, mas tudo irá depender do tipo de infância / adolescência que cada um de nós teve.
Vejo hoje meus amigos terminando a faculdade e iniciando a vida profissional em seus carros do ano dados por seus pais felizes por terem formado os filhos.
Eu, já há mais de dez anos trabalhando de sol a sol, também terminando a faculdade, batendo de “busão” (nome vulgar dado a ônibus) com mulher, filho e uma tonelada de contas para pagar que se eu fosse solteiro jamais teria. Tem sido difícil desde quando resolvi tomar a pílula vermelha e descobri o que é ser gente grande. É complexo eu novo como sou (embora nem tanto), com um filho já de idade avançada e eu querendo quase que as mesmas coisas que ele. Sem opção de diversão, com uma esposa que só dorme ou sente dores de cabeça e nunca consegue acompanhar meu ritmo porque como ela diz: “Você é acelerado demais, se eu for te olhar faço tudo o tempo todo”. O que no meu íntimo não corresponde à realidade. Eu tenho quase 27 anos e vivo no ritmo de uma pessoa desta idade, enquanto ela 24 vivendo em um ritmo de quem está sofrendo depressão aos 60. Hora eu me vejo perdido como agora, refletindo sobre minhas decisões passadas que me trouxeram a vida que tenho hoje. A primeira decisão foi a de ter saído da Matrix (ou ter tomado a pílula vermelha) e agora fico me apertando de cada lado tentando lapidar este diamante bruto chamado alma para em fim ser um bom homem. Enquanto meus amigos continuam no mundo das maravilhas, viajando, se divertindo e deitando-se pelo menos três vezes por semana com alguma mulher e tendo sexo de boa qualidade (ou quantidade como preferir). O fato é que a vida de adulto é muito sofrida e construir meu castelo apenas usando as malditas pedras que encontro pelo caminho torna minha caminhada tão acelerada que não consigo apreciar a vista. O que fazer para solucionar isto? Agora é um caminho sem volta, não há como ser recolocado na Matrix. Existe alguma compensação nisto? Portanto, vamos pensar muito nas atitudes que irão mudar suas vidas para sempre. Seja um casamento, um namoro, uma troca de emprego, uma opção por uma área de estudos ou mesmo a opção sexual. Se compararmos as decisões citadas acima com as ondas formadas por uma pedrinha jogada em um lago, estaríamos falando em proporções “tsunamicas” (palavra que acabei de inventar para criar referência ao tamanho da onda gigantesca “TSUNAMI”). Por isto, antes de viajar para alguma ilha paradisíaca, lembre-se que suas decisões podem lhe afogar.

31 janeiro 2007

O Adeus!

Há onze (ou treze, depende da data que o blogger vai mostrar) dias que às sete da manhã recebi um telefonema de meu pai aos prantos dizendo que a mãe dele havia morrido.
Levantei-me da cama meio bêbado e meio de ressaca se é que isto é possível porque havia tomado todas e mais algumas na noite anterior. Logo após recobrar a consciência, liguei para todos que devia ligar, liguei de volta para ele e me comprometi em buscá-lo no aeroporto.
Às 22:40 encontro no portão de desembarque "B" um velhinho, cansado, cabelos despenteados, barba por fazer, roupas maltrapilhas, olhos fundos e uma vontade enorme de terminar a viagem que só estava começando. Ato contínuo, abro meus braços e aperto este velhinho cansado que há menos de 2 anos era um coroa bonitão, forte e ativo. Espero terminar de cumprimentar minha mãe, irmã e esposa, passamos em uma cafeteria apenas tomarmos um capuccino e nos dirigimos ao estacionamento.
Pegamos o carro e pé na estrada. Percebia a ansiosidade dele em querer chegar rápido mas não atendi à esta expectativa, pelo contrário, diminuí ainda mais a velocidade, porque afinal todo mundo que tinha de morrer naquele dia já havia morrido.
Fomos direto do aeroporto ao velório municipal onde se encontrava o corpo de minha avó. Por falar em avó, esta foi a referência de seriedade, autoridade e serenidade durante muito tempo em minha vida. Lembro-me bem do sorriso em seu rosto quando eu com 18 anos "grávido" ouvia suas palavras. Mulher de belas palavras, solitária viúva criou com vigor 14 filhos.
Chegamos ao velório. Lá estava a minha velhinha avó deitada no caixão, fria, imóvel com o mesmo ar sereno, sério e autoritário de sempre. Uma pena a vida ter de acabar. O meu adeus à matriarca da família Bragança de Mendonça foi silencioso, através de uma oração no momento em que todos diziam estar "encomendando a alma" dela. E o meu velhinho pobre coitado. Sentí pena dele naquele momento. Todos os irmãos já resolveram tudo o que tinham de resolver na vida, só ele que ainda não. Depois de velho resolvera se aventurar pela vida e como todos sabemos que isto é caminho sem volta, ele ainda não se encontrou. Agora com a perda da mãe será ainda mais difícil.
Após passar uma noite inteira em claro velando o corpo vejo o sol apertar meus olhos para que sua claridade não me cegue. Está na hora de me despedir. Voltei até perto do meu velho, o abracei e disse: - Estamos indo, não vamos esperar o enterro.
E ele me respondeu: - Vá, sei que você tem muito trabalho à fazer neste domingo, encontro contigo no final desta semana.
Assim, desta maneira apenas virei minhas costas entrei dentro do carro e voltei para casa. Não sei se me despedi da minha avó da maneira como todos queriam, mas tenho certeza que eu vivo do jeito que ela ensinou. Na luta diária pela independência e no esforço sem precedentes para manter a família unida. Uma pena é pensar que agora tudo que me restará do relacionamento com os demais filhos de minha avó serão as lembranças de natais divertidos, do leite com café na velha mesa de madeira na cozinha, dos biscoitos wafer, das cosquinhas que a tia solteirona me fazia, da cara de bravo do marido de outra tia, dos porres do outro tio, do piano à sala nunca mais tocado por ninguém após a morte de um primo, da tia espírita que me ajudou em momentos que todos fizeram o contrário, da outra tia engraçada que me ensinou a ouvir música clássica, da tia moderna que faz meus perfumes, dos primos ricos que sempre tinham os melhores brinquedos. Naquele dia me despedi de tudo e de todos. Porque estas pessoas só foram unidas porque minha avó tinha este poder, agora tudo se foi.